terça-feira, 16 de junho de 2015

Dezesseis anos depois

Há 16 anos atrás, eu era um garoto de 16 anos que morava longe de São Paulo, cidade que foi o palco daquela final de Libertadores, na noite de 16 de junho. A possibilidade da conquista de um título inédito do meu time era a maior motivação que eu podia ter até então. E, como a maioria das glórias alcançadas, só poderia vir com aquela carga de sofrimento que só os deuses são capazes de enviar.

E o Palmeiras no ardor da partida, tendo perdido a primeira partida por 1x0 para o Deportivo Cali na Colômbia, no saudoso Stadium Palestra Italia, fez 1x0 com Evair, tomou o empate e conseguiu, com Oséas, levar a partida para os pênaltis.

Dali em diante fica difícil lembrar com exatidão dos detalhes da partida. É a hora em que a noção de tempo e espaço se esvai, a realidade perde a forma, o universo inteiro se resume a uma coisa chamada disputa de pênaltis. No gol palmeirense todas as apostas na santidade de Marcos. Marcos era 12. O dia 16. Do outro lado o colombiano Zapata encarregado da última cobrança. Ele partiu para a bola e chutou. Marcos de um lado. Bola pra outro. Pra fora. Pra gritar. Pra morrer e reviver em uma questão de segundo. Pra ser Campeão da Libertadores. Pra 16 anos depois voltar a ser apenas um garoto de 16 anos, num dia 16.


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Esquisitão 2015



Quem tem por volta dos 30 anos tem em sua memória o campeonato paulista como um dos mais disputados, fortes e emocionantes de se acompanhar.
Mesmo com a supremacia dos quatro grandes em número de conquistas, as disputas eram mais acirradas, os jogadores mais talentosos e os estádios mais cheios. Até os nomes dos atletas eram mais engraçados.

O objetivo principal era o futebol, pelo menos era essa a visão - ou ilusão - quando criança, e não apenas o lucro, fazendo do esporte pura especulação, como hoje vemos pela atitude de diversos dirigentes, empresários e dos meios de comunicação, principalmente a TV.
Nos últimos anos vemos times de aluguel, baixa qualidade técnica e aumento exorbitante dos ingressos com o surgimentos das novas arenas. Se o futebol é o esporte do povo, que povo é este que consegue pagar 80 reais num ingresso?

Dizem que os tempos mudam e a modernidade um preço. Neste caso, paga-se o distanciamento de grande parte da torcida que não pode arcar com tais gastos. É a gourmetização do futebol.

Além disso, alguém consegue entender este regulamento? O time que luta para avançar às quartas de finais perde e é rebaixado. Time com um único jogador no banco de reservas. Os primeiros colocados com a falsa vantagem de se jogar em casa podem ser eliminados logo de cara porque o jogo não é de mata-mata. É só mata. E mata o torcedor de raiva, de desgosto e ilusão. Porque o futebol, este sim, já morreu há tempos.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Casa nova, velhos problemas

Em 1920, o Palestra Itália, com apenas 6 anos de vida, resolveu comprar o estádio que alugava no Parque Antarctica e construiu, aos poucos,  o estádio que tinha o mesmo nome do time. Em 1930, realizou o primeiro jogo noturno, com um empate em 3x3 com o Juventus. Três anos depois, as arquibancadas de madeira foram substituídas por concreto armado, aumentando a capacidade do estádio, no jogo em que o Palestra venceu o Bangu por 6x0, dando início ao mais moderno estádio de futebol até então, antes da construção do Pacaembu. Na década de 50, as arquibancadas paralelas foram unificadas pela "ferradura", proporcionando um número ainda maior de espectadores e, em 1964, o gramado elevado fez nascer os famosos "Jardins Suspensos de Palestra Itália", inaugurado com uma vitória do Palmeiras sob o Guaratinguetá em 2x0.


O Palestra, nascido na primeira década do século XX, se afasta cada vez mais do Palmeiras que agoniza nas primeiras décadas do século XXI. Uma sucessão de erros de administração culminou em dois rebaixamentos (2002 e 2012) e dois títulos ( Paulista 2008 e Copa do Brasil 2012). E a história de um time é feita através de seus títulos, mas também através de seus fracassos. O Palmeiras coleciona os dois, ainda que os insucessos, infelizmente, insistem em acontecer com maior frequência.

O grande alento do torcedor alviverde é o retorno a sua casa, mais uma vez reformada, agora com status de arena multiuso, o Allianz Parque. Muito por conta da empolgação que tal retorno traria, como de fato aconteceu na noite de ontem, a torcida teve a sensação de que o estádio novo viria com um time novo, mas isso esteve longe de acontecer. Uma atuação pífia de jogadores com a menor condição de fazer parte de um elenco cujo time tem uma história tão vencedora quanto o Palmeiras. A inauguração da nova arena ficou marcada pela derrota de 2x0 para a equipe pernambucana do Sport.


Hoje o torcedor chora. De emoção pelo estádio novo. De apreensão pela ameaça de mais um rebaixamento. De insegurança pelo futuro incerto.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Os 100 Anos da Sociedade Esportiva Palmeiras

É possível falar do time do coração e ser imparcial? Em alguns momentos sim, hoje não é o caso. Hoje é dia que a paixão fala mais alto e forte e é ela quem comanda e cadencia as poucas palavras capazes de serem escritas diante desta tela, quando nem as palavras se bastam com tanta emoção, com tanto amor. Hoje o dia é do Palmeiras!



Os 100 anos são do Palmeiras, do Palestra, do time formado por imigrantes italianos que desejavam ter uma equipe de futebol, pois o esporte já contava com times de outras nacionalidades. Nasceu na Praça da Sé, cresceu na Água Branca e se espalhou pelo país inteiro, pelo mundo todo.



Com esquadrões cada vez mais fortes, o time foi ganhando mais adeptos, o campinho do Parque já não mais comportava tanta gente, veio o Conde, o investimento, o estádio. Stadium Palestra Italia. Mais tarde, as velhas arquibancadas de madeira dariam lugar a um moderno estádio feito em concreto armado, inovador para os padrões da época. Como inovador foi a elevação do campo, evitando assim a danificação do gramado com as recorrentes enchentes do bairro, surgindo os Jardins Suspensos.



Surgem Bianco, Heitor, Romeu, Imparato, Oberdan, Junqueira, Waldemar, Valdir, Leão, Luis, Dudu, Ademir, Nei, César, Velloso, Marcos, Evair, Edmundo, Arce, Alex, Rivaldo, Sampaio e uma constelação de craques que eternizaram o alviverde no patamar das grandes equipes de futebol. Enfrentou a peste e a guerra, envergou o fardamento da seleção brasileira com orgulho e vitória, ostentando a sua fibra.















Logo teremos casa nova. Esperanças renovadas, como o fogo da fênix verde que renasce e dá novas folhas a estas Palmeiras e aos nossos corações. Hoje o dia é do Palmeiras, vida longa ao alviverde imponente!

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dica de Leitura #10 - Primeiros Passes

O futebol vem sendo, ao longo dos anos, tema de diversas pesquisas acadêmicas, devido sua importância e repercussão, direta ou indireta, na vida de todos nós. Um dos grupos responsáveis por estudar o esporte em vários aspectos é o LUDENS - NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISAS SOBRE FUTEBOL E MODALIDADES LÚDICAS, criado na USP em 2010 e com pesquisadores da UNICAMP, UNIFESP, UNESP, além da Universidade de Bristol, Universidade Lusófona de Lisboa e Universidade do Porto e de instituições como o Museu do Futebol.

Juntamente com a Biblioteca Mário de Andrade, sob organização de Wilson Gambeta, foi lançado nesta semana o livro Primeiros Passes: Documentos para a História do Futebol em São Paulo (1897-1918), inaugurando o selo da biblioteca que permite o acesso ao acervo de obras raras lá existente. 

O livro é dividido em quatro partes, com textos de Hans Nobiling (Primórdios e dados históricos da implantação do futebol em São Paulo), Mario Cardim e Luiz Fonseca (Guia de Football), um resumo histórico do Club Athletico Paulistano e finaliza com Antonio Figueiredo mostrando a história do football em São Paulo.

Através dos fac-símiles existentes no livro, o leitor fica mais próximo dos documentos produzidos entre o final do século XIX e começo do XX, período em que o futebol surge e se consolida como preferência, mostrando dados como ficha técnica dos times e o estatuto da Liga Paulista de Football.

É uma obra que possui uma contribuição ímpar a todos os que se interessam pelo tema, com um caráter enriquecedor pelo acesso a uma documentação que tem muito a nos contar e ajudar a entender as dinâmicas socioculturais através do esporte.

sábado, 21 de junho de 2014

A Eterna Muralha

As mãos que tremem ao escrever este pequeno rascunho não são nada perto das gigantes mãos de um grande homem que se foi, e que nunca tremeu.
Estas mãos eram de Oberdan Cattani, a muralha verde palestrina, que proporcionou muitas alegrias, além do respeito e admiração de todos.
Vencedor por diversas vezes. Viu e fez do Palestra líder, o Palmeiras campeão. Um dos símbolos da "defesa que ninguém passa", ainda assim, ele passou e nos marcou, deixando o legado de amor incondicional e dedicação entre o homem e o esporte.

Seu Oberdan permanecerá vivo em nossos corações, como o grande P, no centro de seu peito.
Difícil escrever e descrever algo que foge da compreensão, o que nos resta é somente aplaudir e agradecer por tudo aquilo que o grande goleiro fez.



"Iniciei no Palestra e vesti a camisa do Palmeiras, o que representa muito mais do que amor.
Oberdan Cattani
12/06/1919
20/06/2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

A mulher e o impedimento



Olá, pessoal que acompanha nosso blog. A vida acadêmica nos impede de escrever mais frequentemente e, também, o futebol se mostra cada vez mais chato que fica difícil até de arrumar um assunto legal pra escrever.

Além da falta de qualidade do espetáculo, o que se vê é banana atirada em campo, vaso sanitário atirado na rua, preconceito, racismo, machismo e intolerância atirados aos quatro ventos. Onde isso vai parar? Daqui a pouco mudaremos o nosso blog para Futebol, História e Bestialidades, porque do jeito que está não dá.

Domingo passado tivemos o caso da auxiliar de arbitragem Fernanda Colombo, no jogo Cruzeiro x Atlético Mineiro, em que ela cometeu um erro marcando um impedimento não existente do jogador cruzeirense Allison. Bandeirinhas erram, juízes erram. Mas, no caso de Fernanda, ela paga um preço maior por ser mulher.

As mesas redondas e especialistas em futebol dizem que sua pouca idade e experiência em jogos importantes foram cruciais em suas atuações no campo, mas será que é só isso mesmo? A declaração de um diretor do Cruzeiro foi clara: ela teria que pousar nua e não ir trabalhar na beira do campo. E quando um juiz ou bandeirinha erra, o que fazemos? Xingamos suas mães!

Futebol é um esporte machista ou ele é só mais um elemento que compõe este comportamento presente em todos os âmbitos de nosso cotidiano?